segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Mão dupla
sábado, 2 de maio de 2009
Cheia de nada
Por Florbela Espanca
"Amar! Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além... Mais
Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender?
É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar..."
"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos. O quadro é único, a moldura é que é diferente".
Essência
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Primavera
Reformaram o jardim. Espalharam cimento, colocaram bancos e cortaram umas árvores.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Última carta de Virgínia
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Ela
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida...
Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!
terça-feira, 7 de abril de 2009
impermeável
Ela às vezes queria ser 'impermeável'. Absolutamente plastificada a ponto de não absorver e não liberar coisa alguma.
Sempre intacta.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Flutuante
Escrevi já faz um tempo, mas algumas palavras ainda se encaixam. Mas a sensação já não me cabe, o passado já não me cabe. Mas, nem todo sentimento é perecível, hoje os motivos são outros e os impulsos são reprimidos. Reprimido, comprimidos, e guardados numa caixinha de verniz azul celeste. Ainda prefiro a invisibilidade à transparencia. Mas algumas coisas transbordam. Auto-controle? hã...
Momento de rara perdição, normalmente eu me trataria na terceira pessoa. Talvez por comodismo, talvez por achar mais fácil falar dos problemas me vendo como outra, ou fingindo que não estou tão perto assim. Sair de dentro de mim e olhar de fora sempre foi mais reconfortante, mas agora não, agora eu não me importo em parecer-me comigo.
Agora eu sugiro até, que sou eu, sem terceiras pessoas, sem duvidas, sem confusões. Eu. Despida de todo e qualquer pudor, esquecendo todos os velhos conselhos, voltando os sentimentos lavados com água e sabão, dobrados com vincos, para as suas gavetas. Que eles fiquem lá, até eu querer usá-los outra vez.
Há anos eu pensava que eu jamais seria capaz disso, resolver entre sorvete de kiwi ou de limão, era a motivo de sobra para horas de agonia profunda, e depois disso já não importava mais qual deles eu havia escolhido, já que qualquer um teria perdido o gosto por sempre achar que deveria ter escolhido o outro. Mania de insatisfação. Mania de não entender porque eu tenho que escolher entre uma ou outra coisa, porque eu não posso colecionar as coisas? Porque o final e o começo das coisas tem quem ser pré estabelecidos? Na maioria das vezes o final é necessário, mas a dor de dizer 'chega' é maior que tudo, logo se não precisássemos delimitar um ponto final, as coisas aconteceriam naturalmente, de forma mais doce. Ignorar alguns fatos às vezes é preciso. Hoje eu magoei alguém que um dia foi tudo o que eu mais quis. Hoje eu disse 'não' para um caminho que sempre me pareceu o mais encantador. Eu não queria mais andar por este caminho, mas ver o caminho se apagando aos poucos, dói. Tentar se ver livre de algo que teima em grudar na ponta dos dedos é cansativo e desgastante, mas a sensação de ter conseguido finalmente ter as mãos limpas, é mais vazio do que não se ter nada nas mãos. Ouvir alguém dizer, entre soluços que algo 'nunca mais' vai acontecer e se ver responsável pela dor de alguém que se coloca à frente como um vegetal, cru e sem gosto, causa uma culpa amarga. Eu sempre gostei de saber que as coisas acontecem com o tempo, e eu sempre fui muito amiga dele, o tempo já me tirou de noites escuras e frias com toda a dor que eu poderia ter, mas querer ver o tempo passar estando perto de alguém que corre contra ele, é como querer não respirar. É como viver ao contrário. Tem coisas que mais uma vez me fazem querer devolver o bilhete de entrada para o universo. Sinto-me no ar, logo após pular deliciosamente pelo maior abismo, quanto maior, mais atraente, mas quanto mais profundo mais tempo você tem para se arrepender até que o fundo chegue. Já percebi que eu vou cair, mas não há mais nada a se fazer. Só esperar, e mesmo que seja uma mínima fração de segundo, me faz querer fechar os olhos.
E eu já os fechei por tempos, agora alguém me fez abri-los e eu vejo bolinhas fluorescentes.
E a vontade de chorar não acaba.
Indo e Vindo
[[[Por motivos de fuga, algumas vezes prefiro me tratar na terceira pessoa. Mas nem sempre que falo na terceira pessoa, falo sobre mim. Mas este não é o caso agora, estou num momento de fuga, confesso.]]]
Seria assim tão difícil entender porque as coisas têm que ser definitivas?
Porque as pessoas acham que ela tem que ter as próprias respostas?
Ela talvez tenha as respostas alheias e tenta achar mesmo as suas em alguém... E é como se alguém que tem ao menos uma das respostas dela, lhe desse o mapa c0m o caminho mas na ultima curva tivesse um abismo. (Novamente a vida sendo irônica).
Ela não esperava alguém que lhe fizesse desmanchar-se em superlativos. Mas não esperava mesmo que precisasse acabar sendo o que sempre evitou.
É estranho e desconfortável, acontece mais ou menos como alguém sentado na mesa ao lado, que sacode a perna cada vez mais rápido batendo os pés milhares de vezes por segundo e acaba por chacoalhar loucamente a sua mesa; alucina, cansa, ela quase dá um grito, mas finalmente ela puxa sutilmente a mesa para o lado, para parar de sacolejar no ritmo da loucura alheia... E de repente... a calmaria da ausência do movimento... a catarse... lhe dá um friozinho e um calafrio no pescoço, que torna aquele sacolejar do outro, quase interessante, como se ela pudesse entrar no movimento curto, rápido e neurótico de quem está ao lado. Mas já que o mundo não espera, talvez seja ela quem deva esperar... Mas ainda tem o olhar curioso de alguém, que faz valer a pena.
Ela sempre tentou não deixar nada transparecer, e de tanto tentar, acabou deixando-a cada vez mais transparente, embora preferisse ser mais que isso e acabar sendo invisível.
Tinha certas emoções tão exageradas quanto disfarçadas.
Talvez a vida dela não seja tão feliz e nem tão intensa, mas ainda que fosse talvez não valesse a pena.(...) [?]
“Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.”
terça-feira, 17 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
Sorriso amarelo
Ironia do dia, ironia da vida.
Hora do vazio, hora do sentimento catártico de intermediário. Em cima do muro? Não. Nem em cima, nem embaixo. No meio do caminho. Entre o muro e o chão, entre o chão e a queda. O momento irônico que antecede o tombo, quando puxam o tapete e você está no ar por um breve instante de vazio, e intermediário. Talvez você se quebre, talvez não seja nada. Talvez seja isso mesmo, o vazio intermediário.
Era a hora perfeita para acabar, morrer, ir embora, ou simplesmente pular. Tomar uma atitude, aproveitando a altitude. Já que a ironia insiste em se divertir sozinha, de cima da ponte.
O momento era esse, e a hora era ótima pra mais nada a não ser se dar conta de que nenhuma outra coisa tinha a importância que já teve, quando se está no vazio, do alto da ponte, esse momento em que a vida é descaradamente irônica e silenciosa pra manter a sensação de pânico, a duvida, a graça de pegar no ar uma sacada que ninguém mais pegou, digerir e devolver, se divertindo interna e discretamente sozinho com a situação. “negando e se tornando” ironia é uma das formas mais inteligentes de “humor” [?] Sim, humor. Muito. E dramática quando se trata da vida, em especial a sua. E quando ninguém entende? E quando não é pra entender? Acho que é só pelo gozo de se divertir só, nem que seja de si mesmo.
E o momento de vazio com esses minutinhos de inércia do nada que a vida dá me dão a sensação de que é a hora da vida ser irônica, como se eu não percebesse a ironia constante dos fatos, como se ela, a vida, precisasse me ironizar tão evidentemente pra mostrar que pode fazer o que bem entender, como se minha vida tivesse uma vida própria além de mim.
Distânte
Num dia aleatório, no meio do sol, vem uma tempestade, entre a correria de todos os dias, na chuva, na pressa... Uma única vez eu cheguei no horário certo, e não estava acontecendo nada (na verdade quem chega na pressa, aparentemente atrasado é quem vem na hora) era uma pausa no tempo, a espera no silencio, parecia que não estava se encaixando no que era pra ser, uma bolha.
Entrei na bolha. A bolha interna que não permite que o vazio seja preenchido se estendeu à bolha externa, onde eu entrei. Não adianta tentar sair, e eu nem queria, a sensação de ser parte bolha e entrar numa semelhante dava certo... Reconforto.
Sentei, devo ter pensado em algumas coisas... Tinha um relógio na parede da frente, parado. Parado. Entre o relógio e mim, o vão do andar de baixo. O vazio, o buraco, a pausa, o tombo, a ironia completa da situação. E todo tipo de pensamento fazia sentido, mesmo a atração pelo vazio. Não que eu quisesse seguir pensando em passar por ele, muito menos pelo relógio parado, só pensei em... Deixar-me levar pelo sentimento de ir, de pular só pela altura e pela atitude, ou pelo nada. Mergulhar no nada, como uma anestesia, ou melhor! Como a sensação de dormência, em que ainda se sente, mas parece que não é possível que a parte dormente tenha consciência do que está sentindo.
domingo, 21 de setembro de 2008
Grossa, fria e muda
Bolo de fubá com abelhas
E eu lembro que não fiz muita questão de imaginar e tratar diferente do resto do mundo, a tal bolha, achava de fato que era um número-bolha qualquer, dos mais chatos, que jamais seria capaz de entender um alfinete.
Mas, no entanto gostei de jogar alí, toda a minha sopa diária de alfinetes de letrinhas incomodantes, e encher seu colchão-bolha de pedrinhas para atrapalhar seu sono. E como se não bastasse, separando tudo que não deu certo de mim da minha gaveta de coisas para queimar, e guardando pra o número-bolha, já que não ia mais queima-las desde que [pasme] a bolha me trouxe para o lado de dentro desse aquário, e me transformou num número primo (embora eu não saiba qual, se é que importa).
Ainda não tenho uma opinião formada sobre isso, aquários nunca me atraíram muito, e para quem tem falta de ar no vento talvez um pouco de água faça bem [?].
Uma amiga me disse numa carta, que acha que preciso de luz, que talvez eu seja como a lua, que às vezes se sente pela metade mas o que falta é luz para estar inteira mas, eu não gosto de tanta luz, minha foto sensibilidade aguda não permite, queria um jeito de tirar a luz do outro lado e aprender a viver no escuro, lógico que um pouco de alfinetes ajudaria muito, se eu conseguisse planta-los aqui.
Deixo que a bolha tome o controle quanto a isso...
Texto adaptado de uma espécie de carta que escrevi há pouco mais de um ano atrás para um número-bolha, junto de um dos quadros lindos de Beatriz Milhazes.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Tic Tac
Geléia de Amora
mas não foi por muito tempo,
talvez eu não quisesse achar que aquilo era um pouco de mim,
ainda mais dentro de outra pessoa, pois nem sempre é bom...
Já achei 'alguéns' com alguma coisa dentro que quase me completava,
nunca totalmente, talvez eu tenha uma bolha dentro de mim,
que faz ficar ali um vazio, por mais que me preencha
nunca vai ficar por completo, às vezes canso de buscar
alguma coisa e acabo preferindo me conformar com a bolha,
posso ser até me familiarizar com ela, dar um nome, e ouvir o que ela tem a dizer...
[?]
Acordei no meio da noite, sem qualquer motivo aparente, recolhi aos pedacinhos toda a força que eu tinha para levantar e me manter acordada. Fui andando meio sem rumo, carregando o mais delicioso sono, acompanhado de um frio que aos pouquinhos fazia minhas pernas ficarem azuladamente vermelhas e dormentes... eventualmente as pontinhas dos dedos amortecem e depois de várias mordidas na boca, esta começa a ficar levemente quente.
Peguei um pote de sorvete de pistache e uma colherzinha, voltei para o quarto, no tapete... cansada da cama.
Abre gaveta, fecha gaveta... abre caixinha, fecha caixinha...
Esperava muito que o telefone tocasse, eu certamente teria o bilhete de entrada para qualquer lugar mais colorido com gosto de maça do amor e marshmallow.
Eu quero um prato de alfinetes ilusão e fantasia, acompanhado de um pouco de fuga, por favor!
domingo, 14 de setembro de 2008
Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto