segunda-feira, 27 de abril de 2009

Primavera




Mania de evitar a nostalgia por ser tão melancólica. Conclusão dificil, confesso.
Acho que eu evito tanta coisa, por ser intensa. E funciona! Raras pessoas sabem como sou. Sinceramente eu nem me lembro de alguma que saiba. É até estranho assumir isso claramente. Partindo do pressuposto de que nada é eterno, às vezes eu evito o começo, para me livrar instantaneamente do fim. Tenho feito mais isso ultimamente do que de costume. Sempre tive problemas com o fim. Sempre saio antes que acabe. Raramente termino oque começo. Ou termino, antes da hora.
Já faz alguns anos que acabou. Que eu acabei.
E se pudesse escolher não faria de outra forma. Mas conservo a mania inútil de me acostumar com as coisas nos mesmos lugares, do mesmo jeito, com o mesmo gosto, cheiro... Talvez seja só para incomodar a mim mesma com isso, pois eu me dou tão bem com mudanças. Mais que o normal. Mas é fuga. Como de costume. Prefiro ir embora e largar tudo para trás que reformar coisas antigas. Ou então deixo como estão, e me acostumo a ver com outra óptica.


Reformaram o jardim. Espalharam cimento, colocaram bancos e cortaram umas árvores.
Ao lado do portão principal, havia uma árvore... Uma primavera. Todos os dias quando ele ía embora, eu ia até lá com ele, e quando chegavamos inevitavelmente passavamos por alí. Por anos ele tirava umas florzinhas e me dava com cara de sem graça, nem sei se havia algum sentimento consciente naquele gesto; ou se teve por alguma vez e depois virou rotina... Eu nunca deixei transparecer a importancia que eu dava.

Ele nunca soube que eu guardava todas, deixava secar e mantinha as petalas em vidros.
Nem eu mesma sabia que eu ainda guardava isso. Até hoje. Quando cheguei e a primavera não estava mais lá. A presença constante daquela época no presente nunca me incomodou, e nunca me trouxe muita melancolia. Mas... A falta do passado, conseguiu me atingir muito mais do que a presença daquele passado alí, todos os dias no meu caminho.

Alguém chamou minha atenção para a falta da árvore alí... Eu dei de ombros, olhei já de saída sem dar importancia. continuei andando, com a mesma cara. Mas senti minhas pernas meio moles, e uma sensação quente no rosto, um quase desmaio interno. Vontade de fechar os olhos e abraçar alguém, mas... melhor nem piscar.

Continua andando. Passando todos os dias e ignorando a presença ou a falta do passado.