domingo, 21 de setembro de 2008

Bolo de fubá com abelhas


Não era nada disso que eu ia dizer, mas, não sei por que agora, eu tropecei numa caixinha de veludo azul marinho, bem no meio dos meus pensamentos, e lembrei de uma conversa que tive com alguém, embora eu tenha a nítida sensação de ter falado sozinha, e feito muita coisa sozinha imaginando estar com alguém [talvez fosse a bolha]. Onde a provável bolha dizia que achava que as pessoas deviam andar com plaquinhas penduradas com alguma coisa que definisse o humor ou personalidade, e quando eu perguntei qual seria a minha plaquinha, alguém disse "macaquinhos no sótão" e me fez sentir-me a pessoa mais anormal e desequilibrada num raio bem grande.
E eu lembro que não fiz muita questão de imaginar e tratar diferente do resto do mundo, a tal bolha, achava de fato que era um número-bolha qualquer, dos mais chatos, que jamais seria capaz de entender um alfinete.
Mas, no entanto gostei de jogar alí, toda a minha sopa diária de alfinetes de letrinhas incomodantes, e encher seu colchão-bolha de pedrinhas para atrapalhar seu sono. E como se não bastasse, separando tudo que não deu certo de mim da minha gaveta de coisas para queimar, e guardando pra o número-bolha, já que não ia mais queima-las desde que [pasme] a bolha me trouxe para o lado de dentro desse aquário, e me transformou num número primo (embora eu não saiba qual, se é que importa).
Ainda não tenho uma opinião formada sobre isso, aquários nunca me atraíram muito, e para quem tem falta de ar no vento talvez um pouco de água faça bem [?].
Uma amiga me disse numa carta, que acha que preciso de luz, que talvez eu seja como a lua, que às vezes se sente pela metade mas o que falta é luz para estar inteira mas, eu não gosto de tanta luz, minha foto sensibilidade aguda não permite, queria um jeito de tirar a luz do outro lado e aprender a viver no escuro, lógico que um pouco de alfinetes ajudaria muito, se eu conseguisse planta-los aqui.
Mil viagens por todos os lugares mais obscuros hoje, e tem tanta coisa que eu poderia engarrafar se tivesse um funil, mas parece que tudo o que eu preciso cai para fora da garrafa. Freqüentemente eu me sinto incomodada por ser persuadida pelas coisas mais 'deliciosamente ácidas', e o incômodo piora sempre pela sensação de que depois de tais coisas vem algo que parece castigar, como se sempre um dos lados quisesse me incentivar a viver na inércia medíocre constante.O que me alivia é que eu ando pagando qualquer preço por cápsulas gostosamente azedas a ponto de fazer lacrimejar os olhos e que deixam insólita vontade de querer mais.(...)Eu sei que alguns pensamentos envolvidos entre agulhas afiadíssimas, que me passam pela cabeça, não são as únicas coisas que existem, mas são as únicas coisas que eu queria agora.
Deixo que a bolha tome o controle quanto a isso...



Texto adaptado de uma espécie de carta que escrevi há pouco mais de um ano atrás para um número-bolha, junto de um dos quadros lindos de Beatriz Milhazes.