Ironia do dia, ironia da vida.
Hora do vazio, hora do sentimento catártico de intermediário. Em cima do muro? Não. Nem em cima, nem embaixo. No meio do caminho. Entre o muro e o chão, entre o chão e a queda. O momento irônico que antecede o tombo, quando puxam o tapete e você está no ar por um breve instante de vazio, e intermediário. Talvez você se quebre, talvez não seja nada. Talvez seja isso mesmo, o vazio intermediário.
Era a hora perfeita para acabar, morrer, ir embora, ou simplesmente pular. Tomar uma atitude, aproveitando a altitude. Já que a ironia insiste em se divertir sozinha, de cima da ponte.
O momento era esse, e a hora era ótima pra mais nada a não ser se dar conta de que nenhuma outra coisa tinha a importância que já teve, quando se está no vazio, do alto da ponte, esse momento em que a vida é descaradamente irônica e silenciosa pra manter a sensação de pânico, a duvida, a graça de pegar no ar uma sacada que ninguém mais pegou, digerir e devolver, se divertindo interna e discretamente sozinho com a situação. “negando e se tornando” ironia é uma das formas mais inteligentes de “humor” [?] Sim, humor. Muito. E dramática quando se trata da vida, em especial a sua. E quando ninguém entende? E quando não é pra entender? Acho que é só pelo gozo de se divertir só, nem que seja de si mesmo.
E o momento de vazio com esses minutinhos de inércia do nada que a vida dá me dão a sensação de que é a hora da vida ser irônica, como se eu não percebesse a ironia constante dos fatos, como se ela, a vida, precisasse me ironizar tão evidentemente pra mostrar que pode fazer o que bem entender, como se minha vida tivesse uma vida própria além de mim.