domingo, 21 de setembro de 2008

Grossa, fria e muda

(...)
-Eu gosto de você por isso, sabia?!

-Você não me conhece...

-Não?!

-Se conhecesse talvez não gostasse.


[?]



Você também sai correndo? Tranca-se no quarto com o rádio ligado no volume mais alto, que ninguém consegue te ouvir gritando? Cansada do esforço inútil, e o pensamento voa...

Bolo de fubá com abelhas


Não era nada disso que eu ia dizer, mas, não sei por que agora, eu tropecei numa caixinha de veludo azul marinho, bem no meio dos meus pensamentos, e lembrei de uma conversa que tive com alguém, embora eu tenha a nítida sensação de ter falado sozinha, e feito muita coisa sozinha imaginando estar com alguém [talvez fosse a bolha]. Onde a provável bolha dizia que achava que as pessoas deviam andar com plaquinhas penduradas com alguma coisa que definisse o humor ou personalidade, e quando eu perguntei qual seria a minha plaquinha, alguém disse "macaquinhos no sótão" e me fez sentir-me a pessoa mais anormal e desequilibrada num raio bem grande.
E eu lembro que não fiz muita questão de imaginar e tratar diferente do resto do mundo, a tal bolha, achava de fato que era um número-bolha qualquer, dos mais chatos, que jamais seria capaz de entender um alfinete.
Mas, no entanto gostei de jogar alí, toda a minha sopa diária de alfinetes de letrinhas incomodantes, e encher seu colchão-bolha de pedrinhas para atrapalhar seu sono. E como se não bastasse, separando tudo que não deu certo de mim da minha gaveta de coisas para queimar, e guardando pra o número-bolha, já que não ia mais queima-las desde que [pasme] a bolha me trouxe para o lado de dentro desse aquário, e me transformou num número primo (embora eu não saiba qual, se é que importa).
Ainda não tenho uma opinião formada sobre isso, aquários nunca me atraíram muito, e para quem tem falta de ar no vento talvez um pouco de água faça bem [?].
Uma amiga me disse numa carta, que acha que preciso de luz, que talvez eu seja como a lua, que às vezes se sente pela metade mas o que falta é luz para estar inteira mas, eu não gosto de tanta luz, minha foto sensibilidade aguda não permite, queria um jeito de tirar a luz do outro lado e aprender a viver no escuro, lógico que um pouco de alfinetes ajudaria muito, se eu conseguisse planta-los aqui.
Mil viagens por todos os lugares mais obscuros hoje, e tem tanta coisa que eu poderia engarrafar se tivesse um funil, mas parece que tudo o que eu preciso cai para fora da garrafa. Freqüentemente eu me sinto incomodada por ser persuadida pelas coisas mais 'deliciosamente ácidas', e o incômodo piora sempre pela sensação de que depois de tais coisas vem algo que parece castigar, como se sempre um dos lados quisesse me incentivar a viver na inércia medíocre constante.O que me alivia é que eu ando pagando qualquer preço por cápsulas gostosamente azedas a ponto de fazer lacrimejar os olhos e que deixam insólita vontade de querer mais.(...)Eu sei que alguns pensamentos envolvidos entre agulhas afiadíssimas, que me passam pela cabeça, não são as únicas coisas que existem, mas são as únicas coisas que eu queria agora.
Deixo que a bolha tome o controle quanto a isso...



Texto adaptado de uma espécie de carta que escrevi há pouco mais de um ano atrás para um número-bolha, junto de um dos quadros lindos de Beatriz Milhazes.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tic Tac


Estou num caldeirão cheio dos mais deliciosos alfinetes borbulhantes e não consigo pegar nenhum sem queimar o dedo, não estou conseguindo escrever nem metade de uma frase em que as palavras estejam em ordem... E cada vez mais eu percebo que eu não consigo terminar o que eu começo, o que torna cada vez mais difícil fazer o novelo de pensamentos que eventualmente fica esticado, se desembaraçar.
O final do meu dia por mais azedo que tenha sido não foi estranhamente agradável, e eu detesto dores docemente desagradáveis.
Me conta onde ficam os alfinetes mais amargos dentro de você? Quero fechar a minha cápsula agora, não estou nada feliz com o fato de ter que sair daqui de dentro, estou sufocada por essa atmosfera arejada.

Geléia de Amora



Talvez eu tenha encontrado alguma vez,
outra de mim dentro de alguém,
algumas vezes já achei que sim,
mas não foi por muito tempo,
talvez eu não quisesse achar que aquilo era um pouco de mim,
ainda mais dentro de outra pessoa, pois nem sempre é bom...
Já achei 'alguéns' com alguma coisa dentro que quase me completava,
nunca totalmente, talvez eu tenha uma bolha dentro de mim,
que faz ficar ali um vazio, por mais que me preencha
nunca vai ficar por completo, às vezes canso de buscar
alguma coisa e acabo preferindo me conformar com a bolha,
posso ser até me familiarizar com ela, dar um nome, e ouvir o que ela tem a dizer...
[?]
Acordei no meio da noite, sem qualquer motivo aparente, recolhi aos pedacinhos toda a força que eu tinha para levantar e me manter acordada. Fui andando meio sem rumo, carregando o mais delicioso sono, acompanhado de um frio que aos pouquinhos fazia minhas pernas ficarem azuladamente vermelhas e dormentes... eventualmente as pontinhas dos dedos amortecem e depois de várias mordidas na boca, esta começa a ficar levemente quente.
Peguei um pote de sorvete de pistache e uma colherzinha, voltei para o quarto, no tapete... cansada da cama.
Tentando deixar as mãos ocupadas... boca gelada, pedaços dormentes.
Brigando com gatos, procurando alguma coisa que eu não sei ao certo oque, sentindo saudade de alguma coisa que não existe e, ansiosa por alguma coisa que não vai acontecer.
Abre gaveta, fecha gaveta... abre caixinha, fecha caixinha...
Tesoura de tecido! Mudei o corte de cabelo, com a primeira tesourinha afiada que encontrei no quarto, e o que importa a opinião alheia quando o resultado é satisfatório?
Esperava muito que o telefone tocasse, eu certamente teria o bilhete de entrada para qualquer lugar mais colorido com gosto de maça do amor e marshmallow.
Mas hoje não tem graça, minha provável bolha interna de espaço vazio, está num dia azedo e é só com ela que eu vou ter que conviver...
Eu quero um prato de alfinetes ilusão e fantasia, acompanhado de um pouco de fuga, por favor!

domingo, 14 de setembro de 2008



Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa... Qual o quê
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito, quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário, sai em busca do salário, pra poder me sustentar... Qual o quê
No caminho da oficina existe um bar em cada esquina, pra você comemorar... Sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto discutindo futebol... E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias, coloridas pelo sol... vem a noite e mais um copo, sei que alegre 'ma non troppo' você vai querer cantar...
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa você vem feito criança, pra chorar o meu perdão... Qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida diz que vai mudar de vida pra agradar meu coração, e ao lhe ver assim cansado maltrapilho e maltratado, ainda quis me aborrecer... Qual o quê
Logo vou esquentar seu prato dou um beijo em seu retrato e abro meus braços pra você...