terça-feira, 17 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
Sorriso amarelo
Ironia do dia, ironia da vida.
Hora do vazio, hora do sentimento catártico de intermediário. Em cima do muro? Não. Nem em cima, nem embaixo. No meio do caminho. Entre o muro e o chão, entre o chão e a queda. O momento irônico que antecede o tombo, quando puxam o tapete e você está no ar por um breve instante de vazio, e intermediário. Talvez você se quebre, talvez não seja nada. Talvez seja isso mesmo, o vazio intermediário.
Era a hora perfeita para acabar, morrer, ir embora, ou simplesmente pular. Tomar uma atitude, aproveitando a altitude. Já que a ironia insiste em se divertir sozinha, de cima da ponte.
O momento era esse, e a hora era ótima pra mais nada a não ser se dar conta de que nenhuma outra coisa tinha a importância que já teve, quando se está no vazio, do alto da ponte, esse momento em que a vida é descaradamente irônica e silenciosa pra manter a sensação de pânico, a duvida, a graça de pegar no ar uma sacada que ninguém mais pegou, digerir e devolver, se divertindo interna e discretamente sozinho com a situação. “negando e se tornando” ironia é uma das formas mais inteligentes de “humor” [?] Sim, humor. Muito. E dramática quando se trata da vida, em especial a sua. E quando ninguém entende? E quando não é pra entender? Acho que é só pelo gozo de se divertir só, nem que seja de si mesmo.
E o momento de vazio com esses minutinhos de inércia do nada que a vida dá me dão a sensação de que é a hora da vida ser irônica, como se eu não percebesse a ironia constante dos fatos, como se ela, a vida, precisasse me ironizar tão evidentemente pra mostrar que pode fazer o que bem entender, como se minha vida tivesse uma vida própria além de mim.
Distânte
Num dia aleatório, no meio do sol, vem uma tempestade, entre a correria de todos os dias, na chuva, na pressa... Uma única vez eu cheguei no horário certo, e não estava acontecendo nada (na verdade quem chega na pressa, aparentemente atrasado é quem vem na hora) era uma pausa no tempo, a espera no silencio, parecia que não estava se encaixando no que era pra ser, uma bolha.
Entrei na bolha. A bolha interna que não permite que o vazio seja preenchido se estendeu à bolha externa, onde eu entrei. Não adianta tentar sair, e eu nem queria, a sensação de ser parte bolha e entrar numa semelhante dava certo... Reconforto.
Sentei, devo ter pensado em algumas coisas... Tinha um relógio na parede da frente, parado. Parado. Entre o relógio e mim, o vão do andar de baixo. O vazio, o buraco, a pausa, o tombo, a ironia completa da situação. E todo tipo de pensamento fazia sentido, mesmo a atração pelo vazio. Não que eu quisesse seguir pensando em passar por ele, muito menos pelo relógio parado, só pensei em... Deixar-me levar pelo sentimento de ir, de pular só pela altura e pela atitude, ou pelo nada. Mergulhar no nada, como uma anestesia, ou melhor! Como a sensação de dormência, em que ainda se sente, mas parece que não é possível que a parte dormente tenha consciência do que está sentindo.